Movimento dos barcos
Estou cansado e tu também...
Nosso amor tornou-se um cais sob a neblina
Com barcos de velas rotas,
Movimentando-se ao sabor das ondas...
Não sou eu quem vai ficar sentado
À beira do cais,
Lamentando o eterno movimento dos barcos...
Vou sair sem bater a porta,
Não quero voltar nunca mais...
Não quero ficar vendo as coisas
Passando ao largo de mim...
Desculpa-me a paz que te roubei,
E os gestos clandestinos que ignorei,
E o futuro sonhado que te subtraí,
E o sentimento de entrega
Que nunca soube como expressar...
Não chores a saudade de quem não soube amar-te,
Não alimentes os fantasmas da solidão,
Não te deixes cair no vazio do desamor,
Não guardes de mim lembranças vãs...
Levo todas as coisas
Que possam despertar lembranças minhas,
Não quero deixar marcas de minha passagem:
Não deixo mais que uma garrafa de absinto vazia,
As cinzas dos cigarros que fumei na noite insone,
Um copo vazio, papéis amassados...
Meu coração é uma imensa floresta
Consumindo-se em chamas...
Parto ébrio de embriaguez, de liberdade...
Parto para momentos além deste cais,
Parto para a vastidão do mar,
Parto para a imensidão das horas marítimas,
Parto em busca do cais sonhado...
Adeus... Adeus...
Vou para nunca mais voltar...
José Oliveira Cipriano