CONDIÇÕES DE USO

Olhe. Mire. Atente.

Retire o lacre

Abra a folha de estanho

Toque com as pontas do fel.

Cheira. Funga. Inspira.

Coloca o óbvio

Dá a volta por cima

Arranca o aroma que escapa.

Beija. Oscula. Suga.

Faça. Siga. Deixe.

Se acontece

Está nos fatos

Nem sempre nos autos

Nem sempre nos livros

Nem sempre nos tipos

Nem sempre nos planos

Nem sempre nos outros

Mas sempre.

Há que se fazer 18 primaveras hoje.

Há que se tirar os documentos hoje.

Há que se curar a dor dos anos hoje.

Há que se furar o vão dos templos hoje.

Há que se danar, há que se morrer,

Há que se trair, que se entupir, arrepender,

envolver, seduzir, implorar, jurar e desistir

Há de ser hoje

Não haverá futuro

Se não houver saudade

Há apenas hoje.

E se não for assim

Retire as pilhas

Teste outras

Leia o manual

Devolva

Peça o dinheiro de volta.

Nem sempre é assim

Nem sempre está na bíblia

Nem sempre é mentira

Nem sempre faz chover

Nem sempre alicia

Nem sempre liberta

Nem sempre é ético

Nem sempre é moral

Nem sempre há razão.

Fale com a gerência

Elabore uma apelação

Reúna todas as provas

Isole a diversão da noite

Force um semblante sério

Rogue-se qualquer virtude

Exploda a bomba atômica.

E se, ainda assim, nada funciona,

Desanime um pouco a menos,

Prove com parcimônia

Use os olhos, a boca e o passatempo

Use as mãos, os pés, o ventre e a vez

Use os cabelos, o peito, a voz e a rua

Use.

Abuse.

Prove.

Aceite.

Não há o que fazer quando a vontade é

a sua única condição fundamental de uso.

Use agora.

Só agora.

Por que depois?