O hipnôfobo
Estou dormindo quando ouço tua voz,
Abro os olhos lentamente, com expressa indagação.
Por que me vens chamar?
Por que foges quando estendo a mão?
No escuro do quarto tendo te divisar,
Mas meus olhos estão turvos.
Não posso afirmar se o que vejo é real ou ilusão.
Estou realmente dormindo?
Meu Deus! Por que tanta agitação?
Por que foges quando estendo a mão?
O que me acordou fugiu para longe, e de lá me olha.
Está numa escuridão, não posso, acertadamente, distingui-lo.
Não posso, se o conheço, dizer quem é.
Meu coração fica agoniado,
Meu olhos tentam a todo custo reconhecer aquele que me chamou.
Mas num momento impreciso, o olho com mais atenção,e penso,
“É, esse ser me é familiar, no geral, sob a penumbra,
Reconheço que não me é estranho.
Mas esta maneira com que me olha me apavora.
Parece sorrir de mim, ou de minha reação patética, o efêmero”.
O ser que não me é estranho dá gargalhadas de meus toscos gestos,
Do demasiado arregalar de meus olhos.
Todavia, melindrosamente, aproximei-me do canto escuro.
Chegando perto, estendi a mão trêmula.
Meu coração, gélido e aflito, me repreendia,
E eu estava quase morto quando meus dedos tocaram numa coisa lisa,
Agoniadamente fria
Que deixou meus nervos em euforia,
Eu não via nada, nada eu via,
Porém começou a chegar o dia,
E, no esmorecimento das trevas,
Os olhos abriram caminho e com tristeza viram
Que o ser de quem eu nada sabia,
Aquele que da minha mão fugia,
Morava num grande espelho que ali vivia
Recluso e abandonado
E do qual eu sempre me esquecia.