Erre
As folhas estão manchadas
com excesso de pensamento,
e o tempo que antes marchava
e que hoje já nem passa,
vira utópico monumento.
Mas passa página
Que cansa de ser escritura
Inútil, pensante
e desejando ser tempo,
se torna uma mera figura.
Em meio a tanta comoção
a marcha ampara a fuga,
teus passos contados
em busca de mera proteção.
Acato a confusão
e as gotas de larvas
explodem, clamam,
e cospe o vulcão.
E a figura abrilhantava,
as folhas manchadas,
já não eram solução.
O momento agora
era destino ou solidão.
E como uma contradição,
rejeitou o acaso
de ser um simples destino
e virando senso comum,
agarrou a solidão
e virou também assassino.
Assassino de si mesmo,
de pessoa consternada
por querendo ser algo
acabar sendo nada.
Pobre foi a revista,
que querendo ser humano
viveu o comum engano
e se tornou mero relógio.
Pobre foi o relógio,
que querendo ser personagem
passou a ser fútil imagem
e se tornou simples retrato.
Mas não durou como retrato,
cansou de ser espelho,
cansou de ser humano.
Pôs-se a procurar refúgio,
mas com medo de se tornar
refúgio de si mesmo
decidiu resignar.
Acatou sua condição de dor,
de ser sofrimento,
de ser tortura,
de ser suplício.
E como revólver que agora era
colocou fim aos erres
ao fazer aquele que havia sido revista
decidir virar resquício.