MENINO NEGRO
Pobre de nome, a alma dorida
Mãos cheias de "Nada", p´rá fome matar.
Parido no mato. Madrasta de vida!...
Esperando uma estrela que tarda em brilhar.
Os pés calejados, descalços, sem esporas.
Sonhos adiados, ao sol a gretar
São janelas abertas no ventre das horas
À espera que a noite os venha fechar.
Menino criado ao sol do Sertão
Corpinho delgado cheirando a capim.
Falando crioulo, de olhos no chão
Mirrado de choro. Que sina ruim!...
Vontade rendida que a guerra ultrajou.
Criança encolhida, sem afago de mãe.
O mato o pariu, a vida o talhou
Sem dote, de baldio, afetos não tem!...
Criança de negro, por fora e por dentro
Batido p´lo vento, do medo refém.
escorregando na lama, sentado no tempo
Olhando o horizonte à espera de alguém.
Alguém que o afague, que o queira abraçar
que a fome lhe esmague, num naco de pão.
Que um beijo, na alma, lhe possa atear
Uma réstia de sonho no seu coração.
MENINOS de negro, fugidos da guerra
Não podem sorrir, não sabem brincar!...
São pássaros feridos pousados em terra
De braços caídos, olhando p´ró mar!...
Aldina Cortes Gaspar in "PEDAÇOS"