MENINO NEGRO

Pobre de nome, a alma dorida

Mãos cheias de "Nada", p´rá fome matar.

Parido no mato. Madrasta de vida!...

Esperando uma estrela que tarda em brilhar.

Os pés calejados, descalços, sem esporas.

Sonhos adiados, ao sol a gretar

São janelas abertas no ventre das horas

À espera que a noite os venha fechar.

Menino criado ao sol do Sertão

Corpinho delgado cheirando a capim.

Falando crioulo, de olhos no chão

Mirrado de choro. Que sina ruim!...

Vontade rendida que a guerra ultrajou.

Criança encolhida, sem afago de mãe.

O mato o pariu, a vida o talhou

Sem dote, de baldio, afetos não tem!...

Criança de negro, por fora e por dentro

Batido p´lo vento, do medo refém.

escorregando na lama, sentado no tempo

Olhando o horizonte à espera de alguém.

Alguém que o afague, que o queira abraçar

que a fome lhe esmague, num naco de pão.

Que um beijo, na alma, lhe possa atear

Uma réstia de sonho no seu coração.

MENINOS de negro, fugidos da guerra

Não podem sorrir, não sabem brincar!...

São pássaros feridos pousados em terra

De braços caídos, olhando p´ró mar!...

Aldina Cortes Gaspar in "PEDAÇOS"

Aldina
Enviado por Aldina em 27/12/2013
Código do texto: T4627467
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