Pobre Diabo
Minhas mãos estão calejadas
Muito trabalho a base da enxada
Meus pés estão cansados
Andarilho de velhos sapatos, arrastei-me pela madrugada
e corro o risco de não ver a tórrida alvorada.
Foram anos em baixo do sol
muita labuta por muitas luas
Meu suor pouco gerou,
Meu esforço, ninguém notou.
Olhos no chão, cabisbaixo andei
Tive medo de gente
me rendi, me curvei pro Doutô
Disse sim sinhô, baixinho, com vergonha e com temor.
Em vão, em algum momento,
Clamei pelo Senhor, com fé e com fervor.
Esperei. A roda do tempo girou.
Esperei. Continuei como pecador.
Esperei. Me perdi.
Veio a vontade de gritar.
Veio a vontade de chorar.
No silêncio vazio,
Vi minhas lágrimas secarem. Pó.
Destes olhos que muito viu, nunca mais brotou água que regasse
essa maldita mania de acreditar na humanidade.
Andei pelo mundo a procurar por meus iguais
Meus irmãos que deveriam me abraçar
Me deram as costas sem se importar
Meus compadre,
todos de braços cruzados.
Nada pro pobre do diabo.
Todos cegos. Homens tolos. Corações de pedra!
Pisaram em minha cabeça.
Calaram-me.
Riram, fartamente se deliciaram
da desgraça do pobre diabo.
E no final de tudo, A beira de fechar os olhos pro mundo
Um afago,
Um olhar
Um amor genuíno
Fez em mim a esperança brotar
Antes do ultimo suspiro
Penso eu cá
Quem sabe sorte ainda possa ter
em um lugar em que o pobre diabo vai caminhar
Ao lado do Senhor, tal qual como Doutô,
feito santo anjo guardador.