Liquefeito
Me espera chovido, chuva?
Me espera molhado?
Faltam alguns passos
até o outro lado
e em resposta irônica diz:
— Quem se importa?
Me quer derretido, chuva?
Sou açucarado?
Ou seria eu só pingo
como outros tantos
que te compõem, chuva?
Seria eu desnecessário?
Indifere a minha presença?
Vá te preocupar com massas polares,
temperatura, tropicalidade,
e desmatamento...
(E nisto demoro...
Talvez não fosse minha cabeça
um alvo...)
Agora vejo, chuva, só choves
Nem sei porque esbravejo
Me encontrou nesta manhã
encharcou meu tênis furado
deixou úmida minha meia
e a barra da calça
produzirá, quem sabe, fungos
entre meus dedos
E te compreendo chuva
Liquefeito, te compreendo