Paradoxo
Não temo o túmulo,
Que virá reduzir-me ao estritamente óbvio,
Ao anonimato absoluto,
Aos inexoráveis limites da ausência eterna.
Temo a vida que vegeta no relativo,
Com seus parâmetros inflexíveis e seus poderes irreversíveis,
Com suas definições e suas interrogações,
Com seus invernos e seus verões,
Com seus elos e seus litígios,
Com suas igrejas e seus bordéis,
Com seus mendigos e seus tubarões.
Inerte diante da vida,
Debruçado no cansaço de quem nada mais quer,
Observo indiferente tudo que se move,
Inquieto-me e penso no gerúndio “morrendo”,
Que é afinal o único prazer da vida,
Neste momento, que me fascina.