Cefaléia
Dê-me uma xícara de chá com analgésico,
Pois enquanto os livros amarelam nas estantes
A televisão imbeciliza a nação.
Dê-me uma xícara de chá com analgésico,
Pois enquanto a ganância reina soberana
Os transgênicos esterilizam os campos do porvir.
Dê-me uma xícara de chá com analgésico,
Pois enquanto os corações inválidos pulsam desesperança
Amplia-se o império dos mercadores da fé.
Dê-me uma xícara de chá com analgésico,
Pois enquanto os códigos apodrecem nos tribunais
Até a toga se locupleta com dinheiro público.
Dê-me uma xícara de chá com analgésico,
Pois enquanto os políticos se saciam na corrupção
A plebe vegeta na ignorância, na dor e na fome.
Dê-me uma xícara de chá com analgésico,
Pois enquanto se alastra esta bestial geléia
Estagnamos a necessária evolução da raça humana.
Dê-me uma xícara de chá com analgésico
E traga-me o jornal de amanhã.