O ÚNICO
Estou atento
mas me desapercebo de qualquer coisa
que pode ser a mais importante.
Não. Fatalmente era a verdade.
Devo voltar e observar
Não devo seguir
Devo voltar e observar
De novo, de novo, e de novo
Montanhas de concreto
Sinais, mover com os meus olhos todos os sinais de trânsito
E não encontrar sequer um.
Perdido, sedento, caminhando.
Será este rio o grande portento?
Este rio de horror e lama?
Pó de nuvem no sapato
Destrambelho-me pela calçada
Estou só
Estou descalço
Cercado de pássaros.
E, entre um beco e outro,
um sonho e outro,
uma certa saudade.
Se encontro um companheiro,
uma cerveja
Um conhecido, boa tarde!
Sou o que sou
Agora sim
Sei da onde vim
E para onde vou:
O bar.
Guardanapo de boteco
E caneta de garçon
Fraco sou eu:
Os fortes cantam!
No entanto,
passo por cima de bandeiras,
derrubo monumentos,
desconheço reis
e lemas.
Vivo no Quando
Vou para o Onde!
Cantem os pássaros
Eu, não!
Vou e vôo
Sou e sôo
Sinto-me
Sangro-me
pássaro solto
asa ferida.
Antes da noite,
os homens estão cansados,
estão cansados do dia,
estamos cansados de tudo,
sofá
jornal
e tédio
Bom tempo
Mau tempo
Trânsito
Sequestro
Pra que cansar-se com o futuro?
Terror
Luto
Prosperidade...
Eu quero dormir
É muito?
Cão que ladra não morde
Mas perturba
Meia-noite
Amanhã não sei
Se vivo morto
Ou morto vivo
Lá fora estão os cães
Durmam os surdos!
Eu sonharei!
A estrela brilha três vezes sobre o mundo apagado
e volta para o seu silêncio...
Um a um, os sonhos vão acolhendo os seus sonâmbulos
E chegam-lhes de todos os lados:
Ali o Lázaro cura a sua chaga
e o aventureiro encontra o seu El dorado.
Demoli o tempo...
Sonho é sonho
e não preenche espaço
não se prende a pêndulos
não presta contas ao erário
Sonho é sonho:
Nada está pronto!
Hoje o sonho longe,
Onde moro é perto
Nada disso importa
Tudo é Quando!
to be continued...