O INVERNO NO LEBLON

(“Seja realista, exija o impossível” – lema do levante parisiense de 68)

O sentido de todas as coisas parece ultrapassado,

nada mais fazendo sentido.

Na escola, a uma circunspecta menina de onze anos,

ensina-se coisas de tempos de guerra:

- o modo certo de proteção contra o gás do choro,

ao invés da beleza das cantigas de roda, de tempos idos.

Perdemos, de uma vez por todas, o sonho e a lucidez,

enquanto dormíamos, no berço esplêndido das ilusões televisivas,

imaginando, que o marasmo que nos era permitido,

fosse de fato a paz que por tanto tempo buscamos.

Ataco antes que me ataquem, apenas, por um inútil instinto de defesa.

Se alguém tem de sofrer, que seja sempre o outro.

Em cima do muro alto há uma armadilha escondida,

que o meu vizinho armou, para se proteger de ninguém,

no temor de monstros e medos improváveis.

Sinto dolorida saudade das balas kids de hortelã,

substituídas que foram por balas de borracha.

No caminho que conduz à praia, encontro uma barricada,

enfeitada por línguas vermelhas flamejantes,

que escapam de fogueiras patéticas,

alimentadas pelo lixo e outros supérfluos.

Definitivamente, o inverno no Leblon nunca mais será o mesmo.

E os tolos ainda dizem que tudo está sob controle. . .

- por Hans Gustav Gaus, heterônimo de JL Semeador, madrugada de dia nenhum, nos porões de seu castelo medieval, em Nuremberg –