Ânsia
Por que anseias no campo se renascem de manhã
As flores que depois de sua pausa acertada,
Cansadas, no afã em suas noites perturbadas,
Serenas, enfim, proclamam-se, pasmadas,
À espera d’outro dia que não fiquem esquecidas?
E por que a inquietude em tuas mãos e tua face
Que não param inda venha o pensamento delirante
Se outrora costumava espantar os teus fantasmas
Sendo moscas que, por si só, inda não existiam,
Mesmo assim as espantava na coreia em que pasmas?
Então é bem mais tarde em teu medo assombrado,
Quando vinham as cigarras na tua lida desatada
Incomodar-te mais que pôde e que já não suportavas
Nesta vã competição onde o silêncio se perdia
Em todo o longo dia, e intolerante, tu estavas?
E agora, depois de tanto tempo já passado
Nos anos onde foi a tua parca mocidade
Vens mover a tua boca na palavra tão escassa
Na verdade quase nada, mas apenas um espasmo
Nesta ânsia da tua vida que não passa, que não passa...