LAMENTO SERTANEJO

Se há uma coisa que me espanta, é vê o sertão desolado.

Da´inté um nór na garganta fico muito acabrunhado

Tinha paca e tinha anta, hoje é um canaviar danado.

Dava inté gosto de ver o cafezar bem florado

As floradas dos ipês, que as vistas nem arcansava

Era coisa tão bonita que a gente jamais esquece

De noite um lobo guará, pra lua se lamentava

Cada veiz que disso lembro meu coração se intristece

O bem-te-vi que cantava cedinho lá no coqueiro

Juntava ele e meu galo pra me dedicá uma prece

O riozinho cristalino que corria bem manero

Onde o João de barro vinha buscar o bem que carece

Às vezes vinha com ela outras veis vinha sozinho

Buscar o barro prontinho seu produto precioso

No aconchego do seu lar proteger a amada e o ninho

Inspiração de carinho no meu sertão majestoso

Hoje não tem mais o lobo falando c'oa lua cheia

Mataram a paca e a anta com a queimada da cana

E onde havia o ipê florido a terra virou areia

O bem te vi e meu galo que me tiravam da cama

Não tem mais o João de barro e nem aquela porteira

Acabou-se o cafezar com sua flor perfumada

O riozinho inda agoniza no meio da fumaceira

Min'halma de sertanejo vai vivendo desolada

(Idal Coutinho)

IDAL COUTINHO
Enviado por IDAL COUTINHO em 16/04/2013
Reeditado em 16/04/2013
Código do texto: T4243341
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