LAMENTO SERTANEJO
Se há uma coisa que me espanta, é vê o sertão desolado.
Da´inté um nór na garganta fico muito acabrunhado
Tinha paca e tinha anta, hoje é um canaviar danado.
Dava inté gosto de ver o cafezar bem florado
As floradas dos ipês, que as vistas nem arcansava
Era coisa tão bonita que a gente jamais esquece
De noite um lobo guará, pra lua se lamentava
Cada veiz que disso lembro meu coração se intristece
O bem-te-vi que cantava cedinho lá no coqueiro
Juntava ele e meu galo pra me dedicá uma prece
O riozinho cristalino que corria bem manero
Onde o João de barro vinha buscar o bem que carece
Às vezes vinha com ela outras veis vinha sozinho
Buscar o barro prontinho seu produto precioso
No aconchego do seu lar proteger a amada e o ninho
Inspiração de carinho no meu sertão majestoso
Hoje não tem mais o lobo falando c'oa lua cheia
Mataram a paca e a anta com a queimada da cana
E onde havia o ipê florido a terra virou areia
O bem te vi e meu galo que me tiravam da cama
Não tem mais o João de barro e nem aquela porteira
Acabou-se o cafezar com sua flor perfumada
O riozinho inda agoniza no meio da fumaceira
Min'halma de sertanejo vai vivendo desolada
(Idal Coutinho)