A CARNE

é preciso pegar a carne

apertá-la

apartá-la até abrir-lhe a fenda...

oferenda

alambamento

não se ofenda, é só carne

fecunda

oriunda do útero outrora seco

da borboleta...

é preciso sentir a carne

sentar-se sem pungência

sem preconceito

com jeito e querência...

é preciso untar a carne

com o sangue do cordeiro

há quem peça e quem negue

há quem fica e quem foge

eu apenas tenho fome

de carne alheia...

a carne de seus olhos

a pele de sua solidão

o suor do seu desejo

um corpo amorfo na multidão...

é preciso pensar a carne

temê-la

conservá-la em água e sal

a carne tem seu próprio mal,

eu tenho um verso

que permanecerá imortal

quando a carne for transformada em pó...

é preciso pegar a carne

expô-la num balcão de açougueiro

temperada

com o sumo doce de quem goza

a vida...