Nos tempos  do Salazar

         Nos tempos do Salazar os que nasceram

         pobres por azar,  não passavam de um

         estômago, uma boca a mais para sustentar.



        A única saída era o mar.

        No país de acolhimento, braços para trabalhar.

        Transeuntes perdidos.



         Fantasmas errantes  a sonhar com o castelo.

         -  Era belo e eu não o via. A pobreza era o véu

         que me impedia de ver o céu.



        - Pela primeira vez te vejo com olhos de ver e de crer.

        - Vejo o sol a te abraçar, nuvens fantasmas atravessam

           as paredes, brincam de subir e descer escadas.



          No meio da brincadeira viram bruxas aladas.

           Encarnam o mito da esfinge que te mandava ir em frente

           sem olhar para trás.



          Desobedeceste, deste de voltar, não reclames se alguma

           Bruxa alada te der uma vassourada e em estátua de sal

           te transformar.



           A pobreza de Portugal já não padece deste mal.

           Não é mais um estômago, nem braços para trabalhar.

           Aprendeu a duras penas que estudar vale a pena.



           Se precisar imigrar, nem de país de acolhimento isto se

           deve chamar. É a globalização a pedir mestrado, doutorado.

           Já não importa o lugar, o mundo inteiro precisa de cérebros para pensar.



                                                                           Lita Moniz