a densidade flutuante do silêncio dinâmico

Amigo,

estamos na fase da vida em que podemos falar sempre a verdade,

podemos ser sinceros o tempo todo,

e somos sinceros mesmo quando mentimos,

você sabe que é possível pré-datar a verdade...

estamos meio que desencantados, ao que parece, mas na verdade agora que começamos a viver.

se alguém nos perguntar o se gostamos de algo, podemos dizer que não. não é absurdo termos dito por tanto tempo sim?

e aquela pessoa que sempre nos cobrou fossemos de um certo modo... não fomos ridículos ao tentarmos ser como ela esperava que fossemos?

agora podemos relaxar e deixarmos nossa barriga cair por cima do cinto... podemos respirar, e sermos amigos.

que importa se nosso amigo é desse ou daquele jeito?

é nosso amigo! que se vá quem quer que seja que faça apontamentos sobre nosso amigo, sejamos amigos para sempre...

agora que caímos, e que nos iludimos, e que conhecemos a estrada,

ninguém vai mais nos surpreender com uma proposta imperdível, irrecusável...

não, renunciemos a qualquer coisa que nos afaste,

que nos afaste da sombra, de nós mesmos...

essas flores azuladas que derramam seus aromas em nossos olhos cansados

são pétalas mortas para nós...

aqui chegam, ali vão, já passaram.

mas graças a Deus estamos cansados, estamos muito cansados,

mesmo que seja para acompanhar com os olhos,

queremos apenas ouvir música, e ouvir vozes cansadas como as nossas...

não queremos ninguém que seja menor que três eternidades,

qualquer gíria se nos tornou de péssimo gosto, agressiva demais,

sejamos amigos das normas estabelecidas

e liguemos o rádio a saber notícia de algum fugitivo amigo nosso,

desses que ainda não se encontraram na vida,

na vida cinza, na vida iluminada,

que assim como nós se cansarão um dia,

e estejamos prontos para os ir visitar com toda nossa velhice,

a lhes transmitir com a alma toda nossa compreensão,

tudo isso que nem me dizes, nem te digo eu, nem diremos a eles,

mas que a densidade flutuante do silêncio dinâmico,

vai nos unir a todos numa mesma sintonia imortal.

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Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 08/03/2013
Reeditado em 31/03/2022
Código do texto: T4176983
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