noite
gosto da noite, as estrelas surgem para meus olhos limitados
que se ofuscam sob o sol próximo
que meu ser alheio ignora
e lança assim uma mão no vazio
a querer tocar aquilo que está mais para lá, além.
gosto das coisas distantes, das galáxias que não lácteas,
aquilo que nem existe mais, uma luz azul lá longe,
um mais que oceano suspenso em que a luz faz mover-se
sobre si mesmo sem precisar de Terra, ou planeta qualquer, ou pedra bacia,
água suspensa no nada brilhando distante no tempo morto
a chegar até mim, eu lá, bem lá, alheio aqui, alma solta
que não quer olhar a estrelinha que me banha de amor
de luz e energia, ah, nem quero isso que minha mão pode alcançar.
quero o impossível, o que faz meu coração chorar,
se amargurar, lamentar, quebrar o sorriso triste,
descolorar os seres que me tocam, que falam comigo,
ah, nem quero de quem sinto o cheiro,
quero amar mais aqueles seres ali bem distantes
que nem existem, esses seres noturnos
confundidos no escuro das coisas,
como quem nem há, assim um vazio denso, escuro
para onde me demoro a olhar, há, esse sol aqui pertinho
nem tem romantismo,
gosto mais da lua, das histórias meio tristes,
assim como se fosse a minha história infeliz,
um drama, eu gosto de dramar, de amar o que não está perto,
de me isolar e sentir a noite de meu coração,
eu olho para ela e sou mesmo ela,
assim como as estrelas do céu
fossem confetinhos em minha escuridão...