pétalas cerradas

a mente cansada queria ir embora,

o corpo esquálido e linfático, ébrio não suportava mais,

o sono vinha, o peso vinha, a escuridão caia dentro de mim

como se nova situação continuasse,

como se a verdadeira vida fosse essa ali dentro, ali no interior do sono

sob as pétalas cerradas...

perseguições implacáveis, torturas e juras de mortes,

e mortes consumadas, revividas, vividas por dias e dias e mais dias

num luga sem sol, mas também sem noite,

apesar de ser sempre noite, apesar de nunca haver dia...

eu via todos os juízes

seres que eu mesmo despachei com cálices de ódio,

que eu mesmo tramei assassinatos e tramóias inconfessáveis,

que eu mesmo matei e mastiguei com fogo nos olhos,

ali me chamam por adjetivos cabíveis,

pusilânime, covarde, traidor, entre tantos,

e eu nem me pranto, só fujo, covarde que sou,

a buscar uma saída daquele lugar em que sou odiado,

e me mordem e me perseguem e pegam e me esfolam,

e eu grito, e suo,e agonio, e me esfrio e desmaio dentro doutro sono,

dentro doutra corrida, sempre fugindo de demônios alucinados

que me reconhecem de repente, como a um inimigo no espelho

que caiu pro lado de lá

e que agora vou ver, e que agora vou ver!

e então eu clamo e grito e não ouço minha própria voz,

e me beija, arracando-me os dentes e tiras de lábios rasgados entre pedaços de beiços sangrentos, meu mais fiel algoz...

a mente cansada queria ir embora,

e então caía velozmente

como se tudo estivesse na minha mente,

e um segundo depois de fechá-los

eu os abria de repente

como se estivesse caído, como se estivesse morrido, e vivido novamente...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 07/03/2013
Reeditado em 08/03/2013
Código do texto: T4176776
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