DESAFIO E SÚPLICA


Penso, penso, e, quando penso,
Mais vão-me o pensar e o verso.
Nem sei em que pense. Mau lenço
Mantém-me o inspirar imerso.

Vaza-me o peito, árduo e denso,
O vazio. Vem-me então acima
O poeta, e em esforço intenso,
Mais foge-me o dom da rima.

Se algo me vomita a pena então,
Ah! Quisera dar-me consolação!

Qual nada! O que digo é embalde,
Não me arranca o mal do peito.
Quer a inspiração me salde,
Mais a dor me vem com jeito.

Pobre de mim, tão infeliz,
Tendo do poeta a má sina:
Se a árvore me dá resina,
Mais fortifica a sua raiz.

(Invejas-te ainda do poeta,
Louco, aflito, a versejar?
Dá-lhe, pois, a tua peteca,
Põe-te agora em seu lugar.

E deixa-me ler teus versos
E a dor que te não ficou.
Deixa-me ver em ti o inverso,
Se ora és, do poeta que sou.

Se tens-me em peso e medida,
Pois, não me invejes o giz.
Abre-me um ramo em tua vida,
E não serei tão infeliz!)
Aécio Cavalcante
Enviado por Aécio Cavalcante em 16/03/2007
Código do texto: T415277