sinfonias vivas, mortais...

eram assim como que uns pássaros sem cores,

vieram se achegando, como se esperassem.

não os mirava, mais os sentia lá longe, lá no alto, plainando...

nos sonhos me carregavam

como se fossemos já conhecidos de outras eras,

como se o cinza estivesse também dentro de mim, guardado.

espalhei os livros pela casa, dormia ouvindo suas falas,

tinha outros amigos que não dormiam

e que depositavam suas falas no meu ouvido,

em verdade nem tudo eram de livros,

em verdade nem tudo era bom,

em verdade nem tudo era tranquilo

em verdade nem tudo agradava o sono

e eu então viajava lá dentro, ali no sonho,

como se estivesse noutra cidade, noutra idade,

como se eu fosse outra pessoa, nem pessoa eu era...

ouvia uma música constante, conhecida,

me acompanhava desde sempre no silêncio

como se fosse uma de minhas avós que não conheci

a me contar uma história parabólica

da qual o sentido só entendi depois dos 120 anos...

agora que os pássaros tinham os olhos de fogo,

agora que mostravam-se aduncos

e me cravavam nas costas unhas pretas e sujas

eu tentava dizer o que estava acontecendo

aos meus melhores amigos

mas o silêncio estava em mim

como se eu mesmo estivesse me enterrando,

ou enterrando meu cachorro que nunca tive...

fui no quintal e apaguei umas flores,

realmente não tenho olhos para sentir cheiros,

e aquela mulher que amei e que amo de todo meu ser,

foi embora antes mesmo de chegar...

minha casa está cheia de pássaros,

eles tem penas indefiníveis, e são todos cegos,

mas de seus ninhos nascem serpentes azuis...

que entoam sinfonias vivas, mortais...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 17/02/2013
Código do texto: T4144359
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