a pulsar no vazio
um dia quem sabe eu te encontre,
quem sabe numa sobra do caminho,
dessas que há sob árvores silenciosas,
você me encontre a dormitar como quem finda...
talvez não seja tarde
e então uma palavra quebre a escuridão que nos suplantou,
que nos lançou para os calabouços da vida,
onde a respiração é difícil e há flores em decomposição,
como se tudo estivesse derretendo,
como se não houvesse tempo,
e o futuro e o passado fossem uma coisas só,
como se estivéssemos ausentes, ausentes para sempre...
quem sabe numa curva da estrada nos encontremos de não ter jeito,
e então, sem nem nos reconhecermos,digamos um para o outro,
Olá... como vai...
e sigamos assim sem saber direito porque nos cumprimentamos,
a pensar que isso já aconteceu deveras, a duvidar...
e lá na frente nossa memória nos revele
que sob esses rostos caiados que se olharam sem vontade,
esmagados, existe nós...
e então sigamos mais leves
agradecidos a Deus te nos termos falado
mesmo sem poder afirmar de certeza
que nos encontramos de verdade,
pois as estradas andam tão caladas
que não é improvável que inventemos
as situações em que nos vamos nos acertando com a vida,
como se dentro de nossa depressão mais profunda
existisse a pulsar no vazio
nosso amor sempre muito poderoso...