PESADELO DE FIM DE TARDE

A noite desceu açodadamente

Sobre os meus sonhos

A paz incipiente

Escorreu pelos bueiros da cidade.

O sol transformou-se em raios invisíveis

Sob o magnetismo de um buraco negro

Que surgiu sem que saiba de onde

No lugar onde antes havia o poente.

Porém a noite invisível

Não conseguiu trazer alento

Nas ruas nem um único automóvel

Ausência total de vento

O ar sufocante a arder nos pulmões

Vontade de saltar pela janela

Para agarrar as ilusões

De uma lembrança saudosa e bela.

Fecho os olhos com medo

Do pavor que me invade a vida

Meu suor a ensopar o teto

Sangue escorrendo da ferida

Que se abriu na parede da sala

Sabor de fruta estragada

Na língua e no céu da boca

A contaminar o gemido e a fala.

Pronto findou-se o drama

Na TV começou a novela

O galã beija a sua amada

A vizinha sorri alucinada

Diante da falsa felicidade

A cidade mostra-se a mesma

O pesadelo de fim de tarde

Revela-se a mais pura realidade.

- por José Luiz Santos, o JL Semeador, no anoitecer da Lapa, 17/09/2012 –