_________E AGORA, POETA?______

"Nem o mármore, nem os monumentos dourados dos príncipes hão de sobreviverem a estes versos" W. Shakespeare.
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E gora, poeta?
Sem nome
Sem sobrenome
Com marca
Sem marca
Que marca
Os sonhos
Dos loucos
Os poucos
Das mãos
Das minhas mãos 
As mãos
Mãos vazias
Vazias
Do poeta
Da felicidade
A felicidade
Felicidade
Que não é do poeta
A infelicidade
Infelicidade
Das vitrines dos olhos
Da ceia dos porcos
Dos porcos 
Os porcos
Porcos
E agora, poeta?
Onde estão os sonhos
Os sonhos
Dos sonhos
De figuradas buscas
Das buscas
Buscas
Da abençoada face
Do martírio do enlace
Enlace 
Lace
Face
Nasce
Amasse
O amor em caos de sonhos
Do amor
Caos de sonhos 
Caos
Sonhos 
E agora, poeta?
Os dentes
Os olhos
Os óculos
A barba por fazer
No sorriso triste
Triste
Na triste face
Da face
A face
De vida triste
Triste
Vida 
A vida dura dos dentes
Tridentes
intransigentes
Transigentes
Tridentes
Tiradentes
Entre os dentes
Os dentes
Dentes
E agora, poeta?
A tritura dos lábios
Nos lábios
Os lábios
No teu olhar
O teu olhar de sempre
Sempre o teu olhar
O teu olhar
Olhar
Sem olhar
E agora, poeta?
Percorrendo escadas
Da vida cansada
Vida cansada
Cansada
Nas escadas cansadas
Da calada da noite

Na calada da noite
Noite
Bordéus
Cinemas
Boates
Clubes
Deus
Deus?
Deus...
E agora, poeta?
Não se perturbe
Se perturbe
Perturbe
Não se inspire
Se inspire
Inspire
Não se ame
Se ame
Ame
A poesia nossa de cada dia
Dia pós dia
A flor do lacio rachou o asfalto
Foresceu
Nasceu
Renasceu
E agora, poeta?
Sem temer os passos
Os passos
Temer
Não tremer nos trilhos
Tremer
Que se alongam nos passos
Alongam os passos
Os passos
Dos compassos
Nos compassos
Da multidão abalada
Na multidão abalada
Abalado o poeta
O poeta...
E agora, Drummond?



BILHETE PARA MANOEL BANDEIRA
"Não houve até hoje grande poeta que não fosse, ao mesmo tempo profundo filósofo" S. T. Coleridge
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Meu poeta maior
Manoel Bandeira
Vai-te embora pra Pasárgada
Puxe o saco o teu rei careca narigudo
Barrigudo bêbado brocha chifrudo
Chato xereta metido e besta
Vou-me embora pra Jabotical
A cidade das rosas

As mulheres com quem dormes
São feias de pernas finas
Corpo mal feito cintura grossa
Seios caídos bunda achatada
Antes de deitarem-se com você
Deitaram-se com muitos

Vou-me embora pra Jaboticabal
A cidade das rosas
lá terei negras mulatas loiras morenas
Flores tenras tão cheias de charme
Tão cheias de graça
Com molejo nas ancas
Malícia nos olhares
Lábios sensuais tão doces
Como polpa de frutas
Potras ariscas bravas indomáveis
Uma a uma um vulcão em erupção
Insinuosas curvelíneas
Sereias de desejos
Provocando fantasias e imaginações
Iludindo frágeis
Desprotegidos corações

Vai-te embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra cidade das rosas
Lá terei lindas e formosas
Uma mais que a outra
Lindas negras
Belas loiras
Sapecas morenasTenras faceiras feiticeiras
Fadas encantadas
Formosas e belas
Cheias de graça
Cheias de charme
Uma flor em cada pêlo
Um morango em cada poro
Mãos leves suaves veludos plumas

Vai-te embora pra Pasárgada
Meu poeta maior... vai...
Vai beber cachaça com o teu rei
até não aguentar mais
Vou-me pra cidade das rosas
Lá terei minhas amadas
Fadas encantadas
Tão formosas
Tão cheirosas como rosas
Pétalas flor mulher
Perfumes inebriantes
Embriagadores do amor...
- Um violão de mulata seios empinados
Bumbum arrebitado linda fogosa

- Uma orquídea negra
Como o profundo do mar
Noite sem luar

- Um sonho de loira seios perfeitos
Cintura pilão cochas grossas roliças
Lábios carnudos doce polpa de fruta
O olhar nascido do azul
Azul do céu
Azul do mar
Lindo sorriso sonhador
Música na voz
Boca sensual nascente de desejos
Florescendo em beijos
Eternamente amada

- Mignon morena faceira feiticeira
fogo paixão desejo tesão vulcão
O bem
O mal
Céu Terra Mar

Sabe meu poeta Maior
Vou ficar com todas
Você vai ficar sozinho
Sem nenhuma

Vai-te embora pra Pasárga
Vai-te deitar com as tuas mulheres
Vou-me pra cidade das rosas
Colher flores formosas cheirosas
Rosas pétalas flor mulher
Rosas calientes
Pétalas no cio
Flores do amor
Desejo e paixão

Vai-te embora pra Pasárgada
Fique com as tuas mulheres feias
Com o teu rei careca narigudo
Barrigudo gordo bêbado brocha
Chifrudo chato xereta
Metido e besta
Beba a tua cachaça
Até não aguentar mais
Perder o juízo
Ficar de quatro

Vai-te embora pra Pasárgada
Depois que se arrepender
Quando estiver triste
Tão triste de não ter jeito
De não aguentar mais
Sentir vontade de se matar
Se mate com um tiro no peito
Se jogue o vigésimo andar
Eu não vou ligar
Não vou dar bola
Você que se dane
Você que se ferre
Porque vou ser feliz
Na cidade das rosas
Colhendo flores incandescentes
Flores
Negras
Mulatas
Loiras
Morenas
Tenras
Flores calientes
Pétalas no cio
Perfumes do amor
Rosas de paixão
Do desejo
Bem longe
Bem longe do teu enterro

Mas se der conta do teu erro
E não quer que nada disso aconteça
Deixe a tua Pasárgada
Venha comigo pra cidade das rosas
Tem tudo e do melhor
O reiu sou eu
Tenho a mulher que querer
Na cama que escolher.

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