A SÁBIA

Noite de veludo negro.

Ruas imersas em densa névoa.

Árvores que fingem contornos humanos.

Sons magistrais porque ausentes.

Imagens nostálgicas deitadas nas sombras.

Perfumes impressionistas impregnando o ar.

Letras ilegíveis escrevendo na terra.

Gotas de serenidade circulando pelo sangue.

Coração aconchegado em berço suave.

Cérebro batendo sem parar, sem parar,

sem parar. Porém: sem nenhum alarde.

Escondido ali, atrás dos umbrais da espera.

Esperando...esperando...esperando...

Que o sonho e a realidade celebrem núpcias

e me levem, finalmente, até a Sábia.

Do meio do nada surgem, então, os passos.

Passos silenciosos da Dama vestida de Luz,

com túnica azul e manto de prata.

Bela Dama, acompanhada de sua pequena coruja.

Coruja filhotinha, cândida, precoce, curiosa.

Olhos enormes e inocentes,

perscrutando meu íntimo com esperteza reluzente.

“Coruja de Minerva, coisa nenhuma!”,

dizem-me com jeito de criança adivinhadora.

“Minerva é fantasia de homens! Pertenço à Rainha!

À maior invenção Divina! Àquela que chamam de Maria!

Ela, sim, é a legítima Filha Predileta da Sabedoria!”

E eu me vejo, como sempre, invejando a corujinha.