SER POETISA

Ser poetisa é ser grande e pequenina a um só tempo.

É ser ousadia no pensamento e mergulho no sentimento.

É ter coração faminto, mente sedenta, sonhos infinitos,

formas e prismas diferentes, alma sangrenta.

É ser sol e chuva, pétala e espinhos.

Ir até as nuvens feito Ícaro e ser indefesa como um bebezinho.

É querer o impossível e só encontrar o possível

É acolher o que se revela e procurar portas em invisíveis ruelas.

É desejar espíritos semelhantes e não pertencer a ninho algum.

É clamar no deserto em meio a som nenhum.

É ser frágeis asas no meio de patas intolerantes,

e súbita força corajosa diante da deserção geral.

Ser poetisa é ser busca do verdadeiro na montanha

das farsas infindáveis, é não se contentar com ilusões

ou com quimeras de auto-apreciações.

É ser lágrima e dor, frio e calor, calma e furor,

procura e encontro, riso e senso de humor.

É ser amor e paixão por aquilo que transcende a criação.

É ser solidão no seio da multidão e multidão na garganta da solidão.

É ser a voz do total silêncio e o trovão de um estrondoso incêndio.

Ser poetisa é ter nas veias o sangue da freira, da atéia e da prostituta,

da feminista e da escrava, da ignorante e da culta,

da consciente e da alienada, da valente e da covarde,

da mãe e da sem filhos, da que cala e da que faz alarde,

da profunda e da que foge, da que sorri e da que chora,

da que veio e da que virá, da que vive e da que foi embora.

Ah, sei lá! Ser poetisa é ser...é ser, talvez, querida amiga,

mais do que se espera e menos o que se imagina.

É ter gente como você invadindo o ser e ter a arte como amiga.