MINHA VELHICE

Vagões abandonados pela mentira e pela tolice

habitam minha precoce velhice.

Alguns carregam a saudade da Mátria em que nascerei,

do ninho que é o meu lugar, da infância que terei,

da família a que pertenço, do Amor que é o meu amor,

das asas que serão minhas vestes, da cisne que não sei se serei.

Outros carregam sonhos de juventude, carências de menina,

fraquezas de pessoa humana, castelos de belas fantasias,

dores de gente grande, perguntas de mente perguntante,

rasgos de desejos audazes, artes de artista fuçante,

fantasmas de arrepiar, medonhos e hilariantes,

teias de medos movediços, abalos diante de desgraças,

incompatibilidade de línguas, incompreensão de máscaras,

isolamento de pactos fatais, ternura em doses colossais,

estranhamento de vidas chamadas “normais”,

descrença em homens “geniais”, enterros de leis imorais.

E outros, ainda, não sei o que carregam, pois até agora não os abri.

Mas sei que o trem é guiado por aquela esperança inexplicável

que a fé nos traz, e que reina poderosa até sobre o imponderável.