ENXAGEROS
As águas da torneira saindo
parecem as cataratas de Iguaçu
E os assobios uma tempestade
que vem trazendo um furacão
Enquanto ouço os sinos da igreja
que batem indefinidamente e
pela primeira vez... (eu tenho certeza!)
equilibrados com um amplificador
e caixas de som...
O cachorro late em volume alto
E a televisão mudou totalmente
a voz de todos que aparecem...
Há claridade demais no exterior e no interior
tenho a impressão que há um sol a mais
nas ruas e nas calçadas...
E dentro de casa
pelo menos quatro lâmpadas onde
antes tinha apenas uma...
O telefone ousou tocar e o que ouvi
foi uma melodia infernal
criada especialmente para
desequilibrar as mentes....
Todos colocaram muito perfume...
As comidas estão com os sabores
completamente alterados...
Dentro de mim o ventre
confunde a terra firme com
o balanço dos navios vagando no mar...
Ouço a mistura da louça que
dança com uma música qualquer
e se infiltra em mim como
agulhas assassinas...
Agora eu tenho certeza!
Todo este exagero
dos sentidos...
Se eu fechar os olhos e
Der a menor trégua...
Serei obrigada a enxergar
A enxaqueca
outra vez... mais uma vez...
Sem nem poder fingir
um sono bom.