Oração Poente
Oh fim de tarde que traz chuvas convectivas.
Convirja a agonia de meu peito com a água
[e apresente-lhe a enxurrada.
Dê como seu destino o bueiro,
o submundo inóspito e me liberte.
Me ajude a encarar o que o tempo não dissolve,
o que o orgulho resiste em aprender.
Revele o arco-íris do depois,
após as gotas encontrarem os corpos
[e grudarem as vestes frias à pele.
Quero o retrato natural que afaga a alma castigada.
Essa alma que se cansa das pontas de lança,
e não se livra dos vícios dos golpes,
[mesmo quando doem os punhos.
Interfira na noite ausente com sua frescura.
Traga dias mais puros com sua brevidade.
Subverta minha ânsia em aspirações.
Porém, se tudo for tanto,
desdenhe, ordenhe-se ordinária,
coloque apenas abaixo,
ainda que por pouco,
ar-poluição.