CARTA PARA A MINHA BEM-AMADA


Vê se me mandas, ó bem-amada,
Notícias tuas o mais depressa,
Que a minha alma, desesperada,
Vive aqui chorando à beça
Este teu silêncio de morta,
E até já me arromba a porta
Sem que eu veja como a impeça.

Cadê o Newton - esse que tontos
Passeios loucos por aí planeja,
Cheios do bom samba e boa cerveja,
E, por meu bolso, alguns descontos -,
Será que ainda planeja tudo
Ou já estará bem barrigudo,
Velho e fraco, entregando os pontos?

E a Marlene - essa senhora,
Que bem vale aqui que se diga:
Boa esposa, boa mãe e boa amiga,
Alheia sempre ao lugar e hora -,
Continua ela a coser roupa
E a reparar, se lhe dá sopa,
No bolso que o Newton a mão atola?

E a Mércia - essa minha amiga,
Que só é amiga, quando quer -,
Será que agora, cheia de intriga
Nem ouvirá o que eu lhe disser,
Mas me dará palmo de língua,
Ou será que chorará à míngua
Do amigo que mais lhe quer?

E o Marcus - esse bom menino,
Menino homem, digo também,
Como adoro o seu porte fino
E o sorriso que sempre tem
Pra me mostrar lindo no rosto,
Menino assim não dá desgosto -,
Será que vai passando bem?

E o Marco preto - esse nego
Amigo meu maior de fé -,
Será que já deixou o chamego
De sonhar com a bola no pé,
Entre jogadas tão gloriosas,
E o povo a atirar-lhe rosas
E a gritar: “Pelé!”, “Pelé!?”

E a Vera - essa grande amiga,
Entre todas sempre a primeira,
Da cuja mal ninguém me diga
Sem levar de mim boa rasteira
E ainda engolir mil palavrões -,
Será que escuta as vibrações
Da canção que lhe canto inteira?

E a Candinha - tão acostumada
A me olhar quase de esguelha,
Ali, com sua atenção voltada
Pro lindo galã de novela,
Sem nem reparar, no entanto,
No afeto que lhe sinto tanto -,
Será que tudo vai bem com ela?

E a Creusa - essa amiga boa,
Mas simples, como o próprio bem,
Que nem cuida, como pessoa,
No mui apreço que se lhe tem,
Apreço como o meu sem fim -,
Será que ainda lembra de mim,
Tomando guaraná também?

E seu Josué - homem bom de porte,
Que a saúde, por ser ingrata,
Pega, ilude, depois maltrata,
Deixando-o entregue à própria sorte -,
Será que está vendendo saúde,
Coragem, garra e juventude,
Sem, no entanto, ser menos forte?

E a titia, - essa velhinha
Tão boa quanto o seu tempero -,
Será que inda está sozinha,
Porém altiva, sem desespero,
Lá nos recantos de Olinda,
Terra gostosa, santa e linda,
Que já amo quase em destempero?

E a vovó - essa criatura
Meiga e doce; tão sublime
Que tem na voz sempre ternura,
E, no coração, perdão pro crime
De eu não havê-la amado antes -,
Será que inda são constantes
Seu sorriso e seu “regime”?

E a toda a gente amiga e boa,
Que em versos não relembrei
Por um descuidinho à toa,
Vai aqui uma desculpa: só eu sei
Da preguiça que me enamora,
E vou é lhes enviar agora
Forte abraço qual nunca dei.

E para ti - ó bem-amada -
É que envio, linda mulher,
A minha alma apaixonada,
Que sem ti não nota, sequer,
O corpo que a abriga e implora,
Que é a alma de quem mais te adora,
Gosta, ama, deseja e quer!...
Aécio Cavalcante
Enviado por Aécio Cavalcante em 25/02/2007
Reeditado em 25/02/2007
Código do texto: T393365