Porto (Cantiga de Gabriela)

Porto (Cantiga de Gabriela)

A saudade dedilha

a viola dolente

chamando a flauta

ouvindo o apito

do barco que vem

na distância azul

das águas do mar

vidas de preamar

rumo ao porto...

nas ladeiras negras

sobem as pretas

com seus caçuás

seus cestos de frutas

de peixes do mar

coisas de preamar

vieram da margem

das águas da vida

dos limites do porto...

os ternos dos coronéis

sujos de batom dos cabarés

os moços entristecidos

os moços afogueados

brindam a sorte da morte

tragam o sul e o norte

ao pé do balcão antigo

e arriscam lançar o olhar

à moça bonita que chega

morena faceira que só ela

pele jambo de Gabriela

grita o menino grapiúna

Dori Caymmi mulato

a mando de Jorge Amado

calando a reza da beata

e os sussurros amantes

solta vozerio dizendo

que o cacau é tudo

que a vida é quase nada

e que só há uma estrada

para chegar ou partir

para chorar ou sorrir

ali no cais do porto...

e depois cantarola

ao som da flauta de vento

num acorde de brisa

“iá iê, iá iê, oní onã

iá iê, oní onã, nê onã

iá iê, lê lê ô, iê oní onã

iá lê onâ, ê ô, oní onã

onã nã nã naiê, ê ô...”

Rangel Alves da Costa

blograngel-sertao.blogspot.com