POEMA PARA SER LIDO ENQUANTO É TEMPO
Certo dia um homem cansou
Da surdez dos que explodem a bomba,
Da cegueira dos que disparam canhões
(e acertam nas moscas!),
Da mudez dos indiferentes a tudo,
Da hipocrisia dos que ouvem e perguntam
“- O quê?”
E não esperam resposta,
Com desculpas de que são homens sem tempo,
Mas logo à frente param pra comprar jornais
(e ele pensava que cego não lesse jornal!),
Dos que vêem e ouvem
Apenas para comentar uma boa aos amigos...
O homem cansou disso tudo,
E resolveu então ouvir
Não o estrondo dos canhões,
Mas os gemidos das moscas;
Não o comentário dos amigos,
Mas o das esposas sem maridos,
O dos filhos sem pais,
O das noivas sem noivos;
Não o barulho de uma bandeira
Vermelha cortando os ares,
Mas o ruído de um líquido dessa mesma cor
Molhando os campos de batalha;
Não o brado da garganta mandando avançar,
Mas a voz da consciência;
Não os tambores gritando atacar,
Mas os clamores de piedade;
Não o zumbido de uma bala,
Mas o bater das asas de uma pomba;
Não a palavra guerra,
Mas a palavra paz.
Depois de muito meditar,
O homem resolveu enfim
Ouvir, ver e protestar,
Contra o que muitos ouvem,
E não compreendem;
Vêem, e não reconhecem;
E teve uma grande idéia:
Destruir todas as armas de guerra.
E logo transformou idéia em ação.
No início, todos o chamaram de louco:
Como poderia alguém destruir armamentos
Sem levar consigo uma só ferramenta?!
O homem não ligou para tais comentários
Dos cegos, surdos e mudos,
Pois tinha convicção de que levava consigo
A mais poderosa das ferramentas humanas,
Capaz de destruir todas as espécies de obstáculos,
Inclusive, o maior deles – o egoísmo dos homens:
Levava consigo o amor!
E a jornada foi duríssima!
A pouco e pouco, porém,
Canhões eram quebrados,
Aviões de guerra eram queimados,
Tanques eram espedaçados,
Bombas eram destruídas...
A pouco e pouco,
O mundo ia tendo paz.
Quando faltava apenas um país a ser limpo,
O homem resolveu descansar um pouco:
Comprou um jornal,
Recolheu-se a uma poltrona,
E começou, desesperadamente, a devorá-lo.
Leu a primeira página – e nada!
A segunda – e nada!
A terceira – e nada!
A quarta!... A quinta!...
Ah! Estava ali!
Imediatamente ele leu para si:
“Quase todas as armas de guerra estão destruídas,
E em muitos países já reina a paz.”
Uma lágrima corria-lhe a face...
O homem tentou entender, então,
O porquê daquela notícia não ter conseguido
Ser manchete para os jornais;
O porquê de ela estar na última página,
Em letras quase que imperceptíveis...
Pensou... Pensou... E, não encontrando resposta,
Resolveu terminar a sua dura missão.
Por fim,
O fim das guerras:
Paz em todos os continentes!
Bastante feliz, o homem volta a sua terra natal.
Foi chegando lá que ele pôde ver
Muitos tagarelas ficarem mudos,
Perderem amigos,
Por não terem o que conversar;
Muitas pessoas que antes não tinham tempo,
Tê-lo agora de sobejo,
Porque os jornais haviam fechado.
Ah! Agora ele entendeu aquela do jornal!
Afinal, quem iria comprá-lo,
Se nele não havia um assassinato,
Um caso de suicídio,
Uma tentação contra a vida de alguém importante,
Uma guerra?!
De qualquer maneira,
O homem sentia-se feliz.
E qual não foi a sua surpresa,
Quando, tempos depois,
Um guri por ele passou gritando:
“Leiam, leiam: os jornais voltaram!
Vejam: guerras no Oriente Médio!
Tentação de assassinato à vida do presidente
Bush!”
Bastava dar uma olhada no rosto daquele homem
Para ver as lágrimas que lhe corriam a face.
Pobre homem! Chorava qual criança
Ao ver quebrado o objeto dos seus sonhos.
Foi triste para ele e para o mundo,
Mas o homem percebeu
Que para o mal não há cura:
Não basta apenas destruir as armas,
É preciso destruir os homens!
Certo dia um homem cansou
Da surdez dos que explodem a bomba,
Da cegueira dos que disparam canhões
(e acertam nas moscas!),
Da mudez dos indiferentes a tudo,
Da hipocrisia dos que ouvem e perguntam
“- O quê?”
E não esperam resposta,
Com desculpas de que são homens sem tempo,
Mas logo à frente param pra comprar jornais
(e ele pensava que cego não lesse jornal!),
Dos que vêem e ouvem
Apenas para comentar uma boa aos amigos...
O homem cansou disso tudo,
E resolveu então ouvir
Não o estrondo dos canhões,
Mas os gemidos das moscas;
Não o comentário dos amigos,
Mas o das esposas sem maridos,
O dos filhos sem pais,
O das noivas sem noivos;
Não o barulho de uma bandeira
Vermelha cortando os ares,
Mas o ruído de um líquido dessa mesma cor
Molhando os campos de batalha;
Não o brado da garganta mandando avançar,
Mas a voz da consciência;
Não os tambores gritando atacar,
Mas os clamores de piedade;
Não o zumbido de uma bala,
Mas o bater das asas de uma pomba;
Não a palavra guerra,
Mas a palavra paz.
Depois de muito meditar,
O homem resolveu enfim
Ouvir, ver e protestar,
Contra o que muitos ouvem,
E não compreendem;
Vêem, e não reconhecem;
E teve uma grande idéia:
Destruir todas as armas de guerra.
E logo transformou idéia em ação.
No início, todos o chamaram de louco:
Como poderia alguém destruir armamentos
Sem levar consigo uma só ferramenta?!
O homem não ligou para tais comentários
Dos cegos, surdos e mudos,
Pois tinha convicção de que levava consigo
A mais poderosa das ferramentas humanas,
Capaz de destruir todas as espécies de obstáculos,
Inclusive, o maior deles – o egoísmo dos homens:
Levava consigo o amor!
E a jornada foi duríssima!
A pouco e pouco, porém,
Canhões eram quebrados,
Aviões de guerra eram queimados,
Tanques eram espedaçados,
Bombas eram destruídas...
A pouco e pouco,
O mundo ia tendo paz.
Quando faltava apenas um país a ser limpo,
O homem resolveu descansar um pouco:
Comprou um jornal,
Recolheu-se a uma poltrona,
E começou, desesperadamente, a devorá-lo.
Leu a primeira página – e nada!
A segunda – e nada!
A terceira – e nada!
A quarta!... A quinta!...
Ah! Estava ali!
Imediatamente ele leu para si:
“Quase todas as armas de guerra estão destruídas,
E em muitos países já reina a paz.”
Uma lágrima corria-lhe a face...
O homem tentou entender, então,
O porquê daquela notícia não ter conseguido
Ser manchete para os jornais;
O porquê de ela estar na última página,
Em letras quase que imperceptíveis...
Pensou... Pensou... E, não encontrando resposta,
Resolveu terminar a sua dura missão.
Por fim,
O fim das guerras:
Paz em todos os continentes!
Bastante feliz, o homem volta a sua terra natal.
Foi chegando lá que ele pôde ver
Muitos tagarelas ficarem mudos,
Perderem amigos,
Por não terem o que conversar;
Muitas pessoas que antes não tinham tempo,
Tê-lo agora de sobejo,
Porque os jornais haviam fechado.
Ah! Agora ele entendeu aquela do jornal!
Afinal, quem iria comprá-lo,
Se nele não havia um assassinato,
Um caso de suicídio,
Uma tentação contra a vida de alguém importante,
Uma guerra?!
De qualquer maneira,
O homem sentia-se feliz.
E qual não foi a sua surpresa,
Quando, tempos depois,
Um guri por ele passou gritando:
“Leiam, leiam: os jornais voltaram!
Vejam: guerras no Oriente Médio!
Tentação de assassinato à vida do presidente
Bush!”
Bastava dar uma olhada no rosto daquele homem
Para ver as lágrimas que lhe corriam a face.
Pobre homem! Chorava qual criança
Ao ver quebrado o objeto dos seus sonhos.
Foi triste para ele e para o mundo,
Mas o homem percebeu
Que para o mal não há cura:
Não basta apenas destruir as armas,
É preciso destruir os homens!