Crua realidade

Minha vida
tem quadrantes tão perfeitos
que é preciso
mais sofrimento que isso
para me embrutecer
 
Nestes versos
desconexos,
minha alma é um céu aberto
aguardando o amanhecer.
 
Imagens
de criaturas imperfeitas,
de coisas sempre mal feitas,
de engodos ancestrais.
 
Suspiros
nas madrugadas,
gelo fino
nas calçadas,
almas vagando pelo umbral.
 
Minha vida
é uma janela
para uma praia deserta,
onde intrépidas caravelas
jamais aportarão.
 
Tenho olhos
que enxergam muito longe
e vêem
promessas não cumpridas,
perdidas,
em pontos distantes no horizonte.
 
A melancolia
é minha filha adotiva
e se não a alimento de escrita,
ela própria se alimenta
da solidão em que habita.