Confissão I



O que fiz de minha vida,
Senão uma gota d’água
Em suspenso ao frio ou ao calor.
Recebi tanto de Deus! Para quê?

O que construí?
Sou uma folha a rolar na correnteza,
Um segundo de anseio e incerteza,
Como a efêmera existência de uma flor,
Mentiras ingênuas a que chamei viver.

Por quê?
As ilusões me fugiram das mãos,
Como hera no muro branco do passado,
Em ruínas, descendo suave sobre o fim,
Numa falsa e terna trajetória.
Uma cruel ironia do que poderia ter sido.

Tudo desfiz!
Fui isto. Fui aquilo. Que importa?
Teci um mundo de alegrias.
Embalei e guiei pessoas,
Que, perto, estão distantes.
Presenteei mundos que não me queriam.
Dei mancheias de prazer
Na embriaguez, pungente, de não me sentir
Sozinha.

Quimeras de renda.
Ninguém – a não ser eu – destruiu os sonhos!
Toquei-os! Eram de trapos, tolos, fúteis.
Eu sabia. Era só deixar passar a razão.
Agora, reduzo tudo a estas palavras,
Numa história inútil, solta, a meus pés,
No entanto, é dor. É vida com que sonhei.
Está finda.
Era grande demais para mim.

A mentira não consola.
Doloroso guardar uma voz trazida pelo vento.
Um riso, uma lágrima, a saudade de um beijo.
Um abraço que nunca vem.
Pessoas por quem você oro e peço.
Nem notam no meu rosto deserto,
Um mundo passar sem ter passado.
Palavras cinzentas a despertar falsos enlevos.

Tudo justificado está.
Não quero ilusões.
Basta de palavras de fel, lamúrias.
Não quero piedade. Se o destino assim quis.
Quem pode mais que a fatalidade?
A única fonte de onde jorra toda a luz:
Ser ainda feliz na fé em Jesus.

A ninguém recrimino.
Mesmo que pareça impossível,
Não vou desistir: na força da fé,
Pela oração e os raios de misericórdia,
Uma nova vida ainda florescerá.

O tempo torna-se substância.
É só fazer dele um estranho parceiro...



Luandro
Enviado por Luandro em 09/07/2012
Reeditado em 09/07/2012
Código do texto: T3768696
Classificação de conteúdo: seguro