POEMA

eu sei que o poema não espera

eu sei que o poema espera

e é sim e é não

em movimento e em inércia

o poema quer e o poema não quer

e eu sei que não sou eu mais

quando as palavras, perfiladas,

olham-me e com dedo acusador dizem

és meu!

eu sei que o poema me quer

assim como eu quero o poema

mas eu tenho pressa e angústia

o poema não tem pressa

eu aflito e os meus receios e o dedo trêmulo e a folha em branco...

o poema espera

anda, para, para, anda

e eu tudo

e o poema nada

entretanto,

quando o fim do dia chega

a folha está repleta de palavras que me dizem um mundo

os versos todos e o ritmo e os sons do poema

são vozes de um tempo e de outros tempos

e sou eu espalhado em cada estrofe

e não sou eu recortado em cada sílaba

e sou e não sou

e então rio de mim mesmo

e é o riso do parto

de parir e de partir

e de esperar o fim de outro dia

mais uma folha e mais uma agonia

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 06/07/2012
Código do texto: T3764204
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