E AGORA POETA?
"A poesia na sua acepção ampla e verdadeira, é o antever de muito longe, o ousar denodado, o crivar olhos no sol do ideal sem trepidar e ver no homem, tão claramente como o corpo que pede pão e vestido, um espírito que exige luz, um coração que só de amores se alimenta" (A. F. DE CASTILHO)
E agora poeta?
Sem nome
Sem sobrenome
Com marca
Sem marca
Que marca
A marca
Marca
Os sonhos
Dos loucos
Os poucos
Os loucos
Das mãos
Das minhas mãos
As mãos
Mãos vazias
Vazias
De poeta
Da felicidade
A felicidade
Felicidade
Que não é do poeta
A infelicidade
Infelicidade
Das vitrine nos olhos
Da ceia dos porcos
Dos porcos
Os porcos
Porcos
E agora poeta?
Onde estão os sonhos
Os sonhos
Dos sonhos
De figuradas buscas
Das buscas
Buscas
Da abençoada face?
Do martírio do enlace?
Enlace
Lace
O amor em caos de sonhos?
Do amor
Caos de sonhos
Caos
Sonhos
E agora poeta?
Os dentes
Os olhos
O óculos
A barba por fazer
No sorriso triste
Triste
Na triste face
Triste face
De vida
A vida dura dos dentes
Rangentes
Tridentes
Intransigentes
Os Tiradentes
Intridentes
Entre os dentes
Os dentes
Dentes
E agora poeta?
A tritura dos lábios
Nos lábios
Os lábios
No olhar
O teu olhar de sempre
Sempre o teu olhar
O teu olhar
Olhar
Sem olhar
E agora poeta?
Percorrendo escadas
Da vida cansada
vida cansada
Cansada
Nas escadas cansadas
Da noite calada
Noite calada
Na calada da noite
Noite
Bordéis
Cinemas
Boates
Teatros
Clubes
Deus
Deus?
Deus...
E agora poeta?
Não se perturbe
Se perturbe
Perturbe
Não se inspire
Se inspire
Inspire
Não se ame
Se ame
Ame
E agora poeta?
Sem temer os passos
Os passos
Não tremer nos trilhos
Tremer
Que se alongam nos passos
Alongam os passos
Os passos
Dos compassos
Nos compassos
Da multidão abalada
Na multidão abalada
Abalado o poeta
O poeta...
E agora poeta?