"CHUVAS DE MARÇO"
Inexoravelmente as coisas mudam.
Passa o tempo e só ficam as lembranças.
Damos nomes às memórias. Assim:
deste o meu nome a um rio torto
que dobra a curva do esquecimento,
à uma cova rasa, a um gato morto,
a um sapo que saiu do boeiro
e eu,
dei seu nome a um poema
que lhe dediquei em transe
num momento de delírio
pois não percebera
que a boca capaz de nomear um rio sujo,
uma árvore ressequida,
à desmemoriada treva sem melodia,
estavam todos prontos a se derramarem
sobre nós
como chuvas de março,
e apagar para sempre o fogo
das púrpuras rosas do amor
de onde as chamas se levantavam.