"CHUVAS DE MARÇO"

Inexoravelmente as coisas mudam.

Passa o tempo e só ficam as lembranças.

Damos nomes às memórias. Assim:

deste o meu nome a um rio torto

que dobra a curva do esquecimento,

à uma cova rasa, a um gato morto,

a um sapo que saiu do boeiro

e eu,

dei seu nome a um poema

que lhe dediquei em transe

num momento de delírio

pois não percebera

que a boca capaz de nomear um rio sujo,

uma árvore ressequida,

à desmemoriada treva sem melodia,

estavam todos prontos a se derramarem

sobre nós

como chuvas de março,

e apagar para sempre o fogo

das púrpuras rosas do amor

de onde as chamas se levantavam.

permiano colodi
Enviado por permiano colodi em 04/05/2012
Reeditado em 07/05/2012
Código do texto: T3649312