Reclamando de tudo deitado em nuvens de algodão
O que eu poderia fazer
Se as flores quiseram sangrar?
Se o gelo descongelou e virou chamas?
Se os meus sentimentos ultrapassaram
A barreira do inferno
E nem arranharam a tua volta?
A merda ainda maior é que
A resignação é uma túnica
Que nunca me coube ou
Me cobriu com conforto;
E para piorar tudo ainda mais,
A lua, ultimamente, comigo,
Tem sido um objeto malígno,
Que usa, sem receio ou economia,
Toda a fantasmagoria
Da realidade,
E me vigia, intolerante e
Mostrando-se sem a máscara
Que os líricos adormecidos
Em estrumes perfumados,
Portadores da demência santa dos imbecis,
A colocaram para que pudessem
Dizerem-se malditos bonzinhos.
O que eu posso fazer
Se já não percebes meu aroma de súplicas?
Se as batalhas perdidas não me ensinaram
Novas e eficazes estratégias
Ou assoviáveis músicas?
Se meus apelos patéticos por febre e alívio
Nunca passaram daquilo que são:
Apelos patéticos?
Mas, tudo bem,
Ou mehor, foda-se;
Sou um guerreiro substituindo
A força pela sombra da lógica,
Um soldado raivoso e inseguro
Caindo, forçosamente,
No mar revolto da vida crua,
Evitando, com quase inumanidade,
Os lamentos inúteis característicos
Do grupo dos fracotes,
O meu clube de sempre
E do qual preciso me desvinciliar sem saudades,
Sem clamores, sem mendicâncias,
Sem afogamentos vergonhosos,
Portando apenas um futuro sem nome
A ser escalado, cuspindo para trás o medo
Das alturas sem números finitos
E das inevitáveis e sempre fatais quedas.
11/04/2012