Reclamando de tudo deitado em nuvens de algodão

O que eu poderia fazer

Se as flores quiseram sangrar?

Se o gelo descongelou e virou chamas?

Se os meus sentimentos ultrapassaram

A barreira do inferno

E nem arranharam a tua volta?

A merda ainda maior é que

A resignação é uma túnica

Que nunca me coube ou

Me cobriu com conforto;

E para piorar tudo ainda mais,

A lua, ultimamente, comigo,

Tem sido um objeto malígno,

Que usa, sem receio ou economia,

Toda a fantasmagoria

Da realidade,

E me vigia, intolerante e

Mostrando-se sem a máscara

Que os líricos adormecidos

Em estrumes perfumados,

Portadores da demência santa dos imbecis,

A colocaram para que pudessem

Dizerem-se malditos bonzinhos.

O que eu posso fazer

Se já não percebes meu aroma de súplicas?

Se as batalhas perdidas não me ensinaram

Novas e eficazes estratégias

Ou assoviáveis músicas?

Se meus apelos patéticos por febre e alívio

Nunca passaram daquilo que são:

Apelos patéticos?

Mas, tudo bem,

Ou mehor, foda-se;

Sou um guerreiro substituindo

A força pela sombra da lógica,

Um soldado raivoso e inseguro

Caindo, forçosamente,

No mar revolto da vida crua,

Evitando, com quase inumanidade,

Os lamentos inúteis característicos

Do grupo dos fracotes,

O meu clube de sempre

E do qual preciso me desvinciliar sem saudades,

Sem clamores, sem mendicâncias,

Sem afogamentos vergonhosos,

Portando apenas um futuro sem nome

A ser escalado, cuspindo para trás o medo

Das alturas sem números finitos

E das inevitáveis e sempre fatais quedas.

11/04/2012

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 02/05/2012
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