Destinado ao mistério
Nasci para ser ridículo,
Como todo poeta,
Abismado com os penhascos
Que me atraem e me tonteiam,
Pronto para todos os mergulhos
Que talvez cheguem ao mistério.
Nasci para ser patético,
Como todo pré-fantasma,
Do tipo que nunca assombra,
Pois é fraco e sem vontade,
Como um rascunho da morte
Feito pela mão esquerda do mistério.
Nasci para ser inválido,
Para desempenhar vis atos
No teatro criado pelo dramaturgo
Amargo que sou eu próprio,
Acompanhado de meus muitos
Gêmeos abortados dentro do mistério.
Nasci para ser um deus esquálido,
Ou seja, igual a todos que aqui habitam,
Tendo ainda algumas sutis pústulas
Que a mim e a ti tornam únicos
Em nossos vômitos e no mistério.
31/03/2012