Destinado ao mistério

Nasci para ser ridículo,

Como todo poeta,

Abismado com os penhascos

Que me atraem e me tonteiam,

Pronto para todos os mergulhos

Que talvez cheguem ao mistério.

Nasci para ser patético,

Como todo pré-fantasma,

Do tipo que nunca assombra,

Pois é fraco e sem vontade,

Como um rascunho da morte

Feito pela mão esquerda do mistério.

Nasci para ser inválido,

Para desempenhar vis atos

No teatro criado pelo dramaturgo

Amargo que sou eu próprio,

Acompanhado de meus muitos

Gêmeos abortados dentro do mistério.

Nasci para ser um deus esquálido,

Ou seja, igual a todos que aqui habitam,

Tendo ainda algumas sutis pústulas

Que a mim e a ti tornam únicos

Em nossos vômitos e no mistério.

31/03/2012

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 04/04/2012
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