SE EU MORRESSE AMANHÃ. . .

Se eu morresse amanhã,

seria na sexta-feira,

dia de festa,

de trânsito engarrafado,

de gente que sai à cata,

de bares lotados,

de chegar em casa tarde,

de farra e de bebedeira.

Se eu morresse amanhã,

haveria de querer um sarau,

caixão coberto por duas bandeiras:

do rio de janeiro e do mengão,

nenhuma à meio-pau,

nada de choradeira,

muita, muita piada,

muita música brasileira,

muita vontade de viver.

Se eu morresse amanhã,

queria, antes, fazer um poema,

anunciando, aos quatro ventos,

a delicia que é ter filhos,

a emoção de todos os beijos,

o desejo que em meu peito queima,

aliás, queimava,

e as coisas que não se leva,

por serem muito pesadas:

culpa, orgulho, ódio,

ressentimento e mágoas.

Se eu morresse amanhã,

seria enterrado no sábado,

dia de ressaca e de feira,

véspera de domingo,

dia impróprio prum funeral.

Assim, como tudo é brincadeira,

ria um pouco comigo,

- que a alegria em mim reside -

tomando um chope gelado,

oferecendo, à morte, um brinde,

para que ela não me venha amanhã. . .

- por JL Semeador, na Lapa, numa noite de quinta-feira, refletindo sobre o desejo de não morrer –

jlsantos
Enviado por jlsantos em 24/03/2012
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