SE EU MORRESSE AMANHÃ. . .
Se eu morresse amanhã,
seria na sexta-feira,
dia de festa,
de trânsito engarrafado,
de gente que sai à cata,
de bares lotados,
de chegar em casa tarde,
de farra e de bebedeira.
Se eu morresse amanhã,
haveria de querer um sarau,
caixão coberto por duas bandeiras:
do rio de janeiro e do mengão,
nenhuma à meio-pau,
nada de choradeira,
muita, muita piada,
muita música brasileira,
muita vontade de viver.
Se eu morresse amanhã,
queria, antes, fazer um poema,
anunciando, aos quatro ventos,
a delicia que é ter filhos,
a emoção de todos os beijos,
o desejo que em meu peito queima,
aliás, queimava,
e as coisas que não se leva,
por serem muito pesadas:
culpa, orgulho, ódio,
ressentimento e mágoas.
Se eu morresse amanhã,
seria enterrado no sábado,
dia de ressaca e de feira,
véspera de domingo,
dia impróprio prum funeral.
Assim, como tudo é brincadeira,
ria um pouco comigo,
- que a alegria em mim reside -
tomando um chope gelado,
oferecendo, à morte, um brinde,
para que ela não me venha amanhã. . .
- por JL Semeador, na Lapa, numa noite de quinta-feira, refletindo sobre o desejo de não morrer –