Presença
Tem aqui
Perto de mim
Um ser
Talvez indeciso
Que não quer se mostrar,
Mas ta aqui,
O posso sentir,
Às vezes o ouço respirar...
Será que é alguém
Que de mim cuida?
Talvez esteja dizendo
Para eu não fumar...
Ou anotando o que
Estou fazendo,
Desenhando o que estou a imaginar...
Nesta hora tardia
Em que o dia já quase amanhece
E que vou me deitar
Sinto esse ser se aproximar
Talvez querendo
Que escreva este poema
E divulgue sua existência...
Às vezes o ouço ciciar
Coisas ao meu ouvido
Que abrem clarões em minha mente
Pedaços de ideais
Vontades de partir
Não sei...
Será que ele está aqui para me cobrar?
Porque eu também lembro
De muitas coisas que fiz
E que às vezes ainda faço
Que eu não devia fazer
E às vezes me sinto reprimido
Como se estivesse sendo julgado
E condenado...
Será que esse ser é meu amigo?
Sinto que a qualquer hora
Ele vai se revelar
Fico olhando pelos escuros da casa
Tentando ver algo
Um vulto, qualquer coisa...
Às vezes ouço um pedaço de palavra
E concentro meu ouvido...
Tenho a impressão
De que um dia vai me abri
Outra Realidade
Essa em que esses seres
Estão inseridos,
Sim, porque
Às vezes me sinto bem,
Uma sensação de ter um amigo
E, às vezes não...
Sinto minha alma com medo
E me pego a imaginar
Passagens sagradas
Como se buscasse proteção,
Eu que ando tão destemido,
Que vivo solto
Dentro dessa imensidão
De seres humanos e seres
Desconhecidos que se
Fazem sentir em solidão
Eu, que tenho a cabeça
Cheia de fragmentos teóricos
E que também já me disse
Ateu e que sou meio averso
A certas meiguices
Me vejo a orar sem saber
Se vale minha oração...
Um homem também pode ter medo,
Hoje me falaram isso,
A mim, a mim
Que temo meus próprios pensamentos
Às vezes sinto a pele ficar
Enrijecida como se passassem
Perto de mais de mim
Acontece mais quando
Estou sozinho de madrugada
E então não consigo mais
Me concentrar
Tento dizer-me que não
É nada, tento continuar,
Mas me vêm novamente
Outra revoada de sensações
E meu espírito fica atento
Como se quisesse fugir
Ouço então o silêncio,
Estudando cada segundo
E temendo alguma revelação
Então vou-me a dormir
Com a cabeça cheia de vento
Como se existisse uma garra
No meu coração...
14/07/2007