Desdobramento
Ela é feita de sonhos...
Seus olhos são enigmáticos
Cada um de um cor líquida,
Cada um observa um lado do mundo
E os dois, o outro mundo,
Os outros mundos sustentados
Pela força sonhadora do ser humano
Seu pensamento se materializa
E com ela confabula
E são também sonhos
Não é burocrática
E seu pensamento tão leve flutua
E um de seus pensamentos a pensa
E ela também voa,
Seus pés longe do chão
Segue uma trilha obliqua e curva
Curvas sobre curvas
Todas sonhadas, imaginadas, realmente reais...
Com elas as pedras perdem seu peso,
A sua brutalidade
E também se erguem
Como satélites a cirandar
Em torno de si,
E então ela começa a pensar
Pensar uma canção inédita
E a musica por seu pensamento
Canta a si mesma
Para ela poder dançar
E ela dança
E vêm pássaros azuis escuros
E lhe emprestam grandes penas
Para ela também ruflar
E assim a noite vai passando
Caindo toda ela em seu olhar
E torna então seus olhos negros
Como doces abismos
Perigosos de serem mirados
Pelas almas franzinas
Que não aprenderam a sonhar
A sonhar de verdade
A sonhar a Realidade
E de se desdobrar assim
Na hora de acordar
De sentir o peso de seu corpo
Ela se procura
Entre aquelas que ela pensou
E todas nesse momento
Se entreolham,
Cabelos negros
E olhos fulgurantes
A buscar a que não é pensada
A que não é sonhada
A que não foi por ela mesma criada,
E nesse momento há um silêncio
E as pedras caem...
Concentrar-se não faz parte de nenhum sonho...
Quem vai então por fim
Digerir um pouco de burocracia?
Todas se perguntam
A verdadeira entre as inventadas
Mas todas vivas
Todas sonhadas
Todas reais
Quem vai...?
E assim imaginam comumente
Uma outra, uma sombra, uma sem luz...
Há luz em toda criação...
E é esta que desce
É esta que vem cumprir
Aqui dentro do dia a dia
Sem saber por que razão
Palmilhar seus passos na Terra,
Cercada de outros seres
Mas cheia de um vazio
Que ela não sabe explicar
Nem de onde vem
E à noite ela se confunde
Com as sombras
Mas a qualquer hora
Vive a vida que não tem,
Uma outra além...