Já Ninguém Sabia se Era Noite se Era Dia

Já ninguém sabia se era noite se era dia.
Abrir a janela já ninguém se atrevia.
Lá fora era a guerra a incendiar a face da Terra.

Se houve algum dia saúde e fartura, ninguém sabia.
Comida racionada, água reaproveitada tantas vezes
Que já não limpava, sujava.

A guerra lá fora a todos maltratava.
E a guerra se satisfazia com o mal que fazia.
Guerra é guerra!..
Dizia...

Os donos da guerra lá fora não estavam.
Escondiam-se nos palácios onde moravam.
A velha sabedoria gritava.
Mas ninguém ouvia.

E aquela guerra crescia.
Cada soldado era um guerreiro a sonhar
Com aquele castelo na Espanha que faltava
conquistar.

Outros, de tanto sonhar, já moravam no Castelo.
Quando a guerra acabar ambos precisarão se tratar.
O castelo que ninguém via atiçava a teimosia.
A neurose crescia, a psicose acontecia.

O Castelo agora se via.
Era a área da psiquiatria.

Lita Moniz





Ilustra este texto uma pintura de Costa Villar