AO POETA

Deve amar-se sem pensar

em abarcar seu olhar

onde mora a imensidão…

Sem pretender decifrar

se ele nos ama ou não

Pois nem ele próprio sabe

se tem espaço, se em si cabe

único, um amor profundo…

Em seu peito alberga o mundo

paixão feita inquietação

Prosa, rima, abstracção

ferve-lhe a alma em cachão

gelam-lhe as mãos longos frios…

Nas ânsias do coração

corre-lhe o sangue em rios

E corre sem direcção

sem rumo, na indecisão

de prender-se a uma só voz…

Poeta é rio sem foz

sem margens sua ilusão

Poeta só pode amar-se

sem pretender sufocar-se

o ar que em versos respira…

Amando as suas ausências

que prós longes o atira

Afagando o seu regresso

sem nunca dizer-lhe “peço”

mas seu voltar festejando…

Que ele ao voltar está amando

pese o amor inconfesso

Nutrindo-o de imaginário

dando-lhe a beber o vário

mesa e cama encantamento…

Saciando-o de eternidade

na loucura de um momento

Só do hoje lhe servir

que ele não degusta o porvir

nem os sabores de amanhã…

Poeta sorve a maçã

do agora… pronta a cair

Deixem que as musas o amem

das alturas não o chamem

que as pedras do chão lhe doem…

Do sonho não o acordem

dêem-lhe penas que voem!

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 16/07/2005
Código do texto: T34753
Classificação de conteúdo: seguro