Deve amar-se sem pensar
em abarcar seu olhar
onde mora a imensidão…
Sem pretender decifrar
se ele nos ama ou não
Pois nem ele próprio sabe
se tem espaço, se em si cabe
único, um amor profundo…
Em seu peito alberga o mundo
paixão feita inquietação
Prosa, rima, abstracção
ferve-lhe a alma em cachão
gelam-lhe as mãos longos frios…
Nas ânsias do coração
corre-lhe o sangue em rios
E corre sem direcção
sem rumo, na indecisão
de prender-se a uma só voz…
Poeta é rio sem foz
sem margens sua ilusão
Poeta só pode amar-se
sem pretender sufocar-se
o ar que em versos respira…
Amando as suas ausências
que prós longes o atira
Afagando o seu regresso
sem nunca dizer-lhe “peço”
mas seu voltar festejando…
Que ele ao voltar está amando
pese o amor inconfesso
Nutrindo-o de imaginário
dando-lhe a beber o vário
mesa e cama encantamento…
Saciando-o de eternidade
na loucura de um momento
Só do hoje lhe servir
que ele não degusta o porvir
nem os sabores de amanhã…
Poeta sorve a maçã
do agora… pronta a cair
Deixem que as musas o amem
das alturas não o chamem
que as pedras do chão lhe doem…
Do sonho não o acordem
dêem-lhe penas que voem!