Restos Se os Houver

Quando esta civilização passar
o que vai ficar?
Caminhamos para uma destruição total
forjada nesta morada.

A intenção é que não sobre nada para
contar a história.
Civilização sem memória.

Se algum escafandrista, cientista
descortinar restos de nós, vai deduzir
com o que nos andávamos a iludir.

Se acharem campos de futebol com as
arquibancadas preservadas.
No chão bolas de montão. Vão pensar
que era aquilo a nossa religião.

Vão tomar o pobre por nobre, a fome
por artifício para chegar ao corpo
perfeito a qualquer sacrifício.

As academias. Se alguma resistir,
vão intuir que ali se praticava um
ritual para alcançar o corpo ideal.

A maioria das ossadas vão denunciar
gorduras acumuladas.
Braços fortes, pernas grossas, tronco
resistente.

Vão dizer que era gente capaz de tudo
fazer só para sobreviver, que até a gordura
acumulada estava associada a essa razão de ser.

Os templos, sem tecnologia para lidar com o
financeiro, vão dizer que eram os primos pobres
dos bancos onde também se depositava dinheiro.

Lita Moniz

 Pintura de Costa Villar ilustra este poema