38 graus na sombra

este calor maldito

frita meus miolos,

já muito comprometidos;

o sol é só grito,

chamando os tolos

para a ilusão de um

feliz domingo infinito.

não tenho ar condicionado

e meu ventilador

me sopra fogo invisível;

não desejo não estar parado,

pois este maldito calor

me deixa inservível.

na rua os carros passam

exibindo-se

com canções imbecis;

na minha rede, as moscas falam,

referindo-se

aos meus fedores sutis.

o cachorro já não agüenta

o peso e o desconforto

de seus próprios pêlos;

e o latido que ele tenta

sai só um resmungo torto,

insuficiente aos seus apelos.

sinto uma profunda saudade

de maio, junho, setembro,

julho ou até de agosto,

mas diante de minha incapacidade

de tornar real aquilo que lembro,

permaneço, suando e sofrendo,

mesmo sendo a contragosto.

23/01/2012

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 24/01/2012
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