Inventando existências
Sou o amante das coisas inúteis,
Embaraçado diante da gosma que produzo,
Tentando chutar para longe o prático e o rígido,
Pintando de preto e branco a ilusão colorida.
Sou o degolador das flores e das confeitarias,
Engasgado com pregos que tornam-se órgãos,
Vigiando a profundidade das sutilezas ásperas,
Sempre com calor, sempre com calos brutais.
Sou aquele que foi diagnosticado inerte,
O dançarino dos ritmos invisíveis e mortos,
O vigilante ausente da sensatez do combate,
O delegado humilhado pela massa disforme.
Sou o som vazio do rato acuado no canto,
Cujo lamento é inútil, mas necessário,
Também aparento certa semelhança com dragões
Extintos, ressucitados e logo esquecidos.
Sou todos os tipos de lamas e de espermas,
Embora me veja como pétalas carbonizadas,
Que desabam de rosas, cheias de independência,
Para logo depois entenderem-se equivocadas.
21/01/2012