O Coração e a Razão


Coração, celeiro de paixões,
Que, ao nascer, recebemos,
Em belo jarro de cristal,
Que, nessa mistura melodiosa,
Que é a vida, usas tão mal.

Coração, tu desdenhas a razão,
Vives sonhando, insensato,
Bailarino de uma corte real,
Infligindo a ti mesmo
As desditas delirantes do presente.
Sempre sem consolo!

Cuidado, tolo coração!
És incapaz de resistir ao destino,
Incapaz de sobrepor-te,
Àqueles que tuas emoções confiscam,

Nada adianta que tal como o mar,
Quando mostra toda a sua fúria,
Fiques a um canto, trêmulo, vacilante,
Depois, logo corres, sôfrego, para amar.

Coração, esqueces que o presente,
Só oferece um toque tão ínfimo, depois,.
Tudo naufraga em nova nau do vazio.
Só a razão conhece teus tormentos.
Sábia, ela te ensina que tudo é transitório,
Porque, enquanto o passado separa o ontem do hoje,
Como se de substância diferentes fossem,
Tu continuas dependente do amanhã.

Coração, o que é a vida?
Uma permanente consumação de mistérios,
Levanta-te, não temas,
Põe em primeiro plano a razão,
Não te deixa eclipsar pelo impossível
Bem sabes que, na harmonia do universo,
Há sempre notas graves e agudas,
Cabe aos músicos suavizar as arestas,

Coração, insensato,
Deixa a razão falar. Ela te conhece.
É tão inútil quão ridículo, tantas digressões,
Que só tu queiras, soberbo, julgar,
Se mal soubeste amar,
Muito menos usar o precioso
Presente que, vir ao mundo, recebeste.
Ela jamais te pedirá provas,
Do alto preço dos teus sentimentos,
Pois, desde o começo do mundo,
Só ela te estende a mão amiga.
Dá-te sempre abrigo.

Não resistas, coração,
Não percas tempo,
Raciocina!










Luandro
Enviado por Luandro em 01/01/2012
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