856 _ CAMBARÁ SOLITO (NATAL)
Tiritando com os ossos cortados pelo minuava
Gauderiava pelas imensidões solitas;
Deserto pampa de noite mui escura
Marcada ao longe pelo cambará
Que mais solito do que eu
Bebia a tristeza da noite fria.
Era nas vésperas, mas não tinha rumo
Estendi meus olhos pela vastidão,
Cheguei a ouvir o piar do quero-quero
Quando me fez memória dos meus dias pagos.
Abracei o velho e nodoso cambará
Lágrimas saíram de meus olhos mui cansados
E brilharam com o raio de luz que caia lá do céu.
Então cai de joelhos naquela terra bruta
Olhei dos pampas além
E vi lá longe, duas estrelas caídas do céu
Alumiando um bolicho abandonado
Mas que estava prenhe de luz.
Quedei o joelho naquela terra de minha gente,
Abri aboca numa prece alegre
Agradecendo ao patrão buenacho
Que fazia presépio naquele rincão
E ascendia o calor no peito deste gaudério
Que se esquecerá que era noite diferente,
Porque era a do menino Deus!