Se eu fosse bom poeta

Se eu fosse bom poeta

Ressuscitara as pedras,

Domesticaria as tempestades,

Embelezaria as tragédias.

Se eu fosse bom poeta

Inutilizaria os crimes,

Enalteceria os fascínios,

Multiplicaria os bons sentidos.

Ao invés disso, apenas fico

Engordando minha preguiça,

Alimentando-a com minhas

Diversas inutilidades,

Mimando-a com ilusões de grandeza,

Colecionando todos os possíveis tipos

De desculpas furadas e conversas fiadas

Que justifiquem minhas futilidades.

Seu eu fosse bom poeta

Ouviria as plantas,

Eternizaria as infâncias,

Amorteceria as quedas.

Se eu fosse bom poeta

Eliminaria as dúvidas,

Arrotaria obras-primas,

Filosofaria coisas lindas.

Ao invés disso, me deito no lodo,

Como se fosse um enfermo

Exibindo sua doença,

Embruteço em mim qualquer possibilidade

De recomeço sorridente,

Navego onde na verdade rastejo,

Vôo onde na verdade me atolo.

Mas não será minha poesia

Feita de calos e fraturas?

Não será minha poesia

Feita de insuficiências

E pedidos de mais (des)culpas?

Não será minha poesia

Feita de tremores e incoerências?

Mas não estará minha poesia

Melhor em espaços desconfortáveis?

Não se destinará minha poesia

Ao inverso da eternidade?

Não estarei mais bem instalado

Na prateleira dos maus poetas?

17/11/2011

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 23/11/2011
Código do texto: T3351620