Se eu fosse bom poeta
Se eu fosse bom poeta
Ressuscitara as pedras,
Domesticaria as tempestades,
Embelezaria as tragédias.
Se eu fosse bom poeta
Inutilizaria os crimes,
Enalteceria os fascínios,
Multiplicaria os bons sentidos.
Ao invés disso, apenas fico
Engordando minha preguiça,
Alimentando-a com minhas
Diversas inutilidades,
Mimando-a com ilusões de grandeza,
Colecionando todos os possíveis tipos
De desculpas furadas e conversas fiadas
Que justifiquem minhas futilidades.
Seu eu fosse bom poeta
Ouviria as plantas,
Eternizaria as infâncias,
Amorteceria as quedas.
Se eu fosse bom poeta
Eliminaria as dúvidas,
Arrotaria obras-primas,
Filosofaria coisas lindas.
Ao invés disso, me deito no lodo,
Como se fosse um enfermo
Exibindo sua doença,
Embruteço em mim qualquer possibilidade
De recomeço sorridente,
Navego onde na verdade rastejo,
Vôo onde na verdade me atolo.
Mas não será minha poesia
Feita de calos e fraturas?
Não será minha poesia
Feita de insuficiências
E pedidos de mais (des)culpas?
Não será minha poesia
Feita de tremores e incoerências?
Mas não estará minha poesia
Melhor em espaços desconfortáveis?
Não se destinará minha poesia
Ao inverso da eternidade?
Não estarei mais bem instalado
Na prateleira dos maus poetas?
17/11/2011